Este fim de ano coincide com o fim de uma década… não faltam por aí analistas a fazer balanços e até alguns que fazem prognósticos. Queria de alguma forma ironizar com este tipo de coisas, mas não sei porquê também me sinto tentada a escrever algumas linhas sobre o que eu acho que realmente se alterou nos últimos tempos…. Não queria andar sempre em torno do tema do blog, mas penso que o que mais se alterou nos últimos anos, foi mesmo a percepção do tempo e do espaço!
Se o terrorismo marcou os primeiros anos deste novo século, a crise económica, que na minha opinião é mais uma crise de valores, tem vindo a pautar a segunda metade da década… principalmente de adoptarmos o ponto de vista nacional como espelho do que se passa pelo mundo. Hoje li uma reportagem na Pública sobre a factura que a economia mundial está a pagar pelos «anos de optimismo» - leia-se crescimento económico à custa do aumento das desigualdades sociais - vividos durante a governação de Bush e Clinton… Se calhar até existe um bom argumento nesse raciocínio, mas como aspirante a socióloga penso que à explicação económica devamos sempre desenvolver uma perspectiva mais compreensiva sobre os modos de vida das pessoas.
Neste domínio, vivemos hoje na era da internet – dos blogs, do facebook, etc. – que alteram completamente a percepção do tempo e do espaço à escala dos agentes. Se alargarmos o horizonte de análise, a era da internet – ou das TIC – transportam-nos para novos desafios em quase todas as dimensões da vida social… principalmente a do trabalho, apesar de todas as teorias que defendem o fim da centralidade do trabalho e insistem na prevalência actual dos valores pós-materialistas. Hoje, o tipo de competências que nos são pedidas no trabalho são totalmente diferentes e ficam rapidamente obsoletas! Esta é uma luta perdida à partida, uma vez que por mais que se tente apanhar a escada rolante, quando entramos nela, há já um novo conjunto de requisitos novos que se formaram… isto era outro post, não queria entrar muito por aqui, até porque penso que existem variações importantes consoante a área de formação! O certo é que, à escala individual tendemos a desenvolver um espírito de dever e procura de satisfação de um conjunto de necessidades quantificacionais, aos quais o mercado responde com a precariedade e constante imposição de novas necessidades. Esta ideia não é minha, mas em parte de um senhor chamado Richard Sennett num livro muito interessante chamado “A Corrosão do Carácter”.
Já fui perdendo um pouco a linha do que queria dizer neste meu pseudo balanço da década… o que espelha a complexidade que uma análise das transformações sociais exige, ainda que muitas vezes não a encontremos nas páginas dos jornais que lemos, muito menos nas curtas reportagens que assistimos na televisão. A ideia principal é sempre a ponte necessária entre o macro e o micro… se de uma forma geral podemos dizer que o imperativo económico parece que veio para ficar, por outro lado o «peso» que este tem sobre os agentes, tem vindo a transformar completamente a nossa percepção das distâncias físicas e temporais… na minha opinião, estas pesam cada vez mais!